Wednesday, October 12, 2011

FAZENDO AS MALAS

        A ideia inicial era começar este texto a partir do titulo, coisa que nao costumo fazer com frequencia, porem, o desfecho tomou outra direçao e o texto inicial virou segunda parte. Entao nao percam a continuaçao: Desfazendo as malas.
        Adotarei uma ideia a partir deste texto. Colocarei a trilha sonora que utilizei para escrever, talvez assim, possamos nos aproximar mais.
Trilha sonora: Eddie Vedder (Into the Wild), Loreena Mckennit.

FAZENDO AS MALAS
(Felipe F. - 12/10/11)

      Acordei naquela manha um pouco mais cedo do que o normal, a realizaçao do percurso pela primeira vez exigia ter tempo de sobra para eventuais imprevistos. Tudo ocorreu dentro da normalidade, cheguei bem antecipado ao ponto de onibus e aproveitei para continuar a leitura de um livro recem iniciado. As pessoas chegaram pouco antes do onibus, nao escondi a felicidade e a expectativa que preenchiam meu corpo naquele momento. Estava bem empolgado e visivelmente ansioso em abrir os presentes de novidades, sempre gostei de mudanças por estes motivos. Reclinei o banco e comecei a pensar nas minhas recentes grandes mudanças. Enquanto observava o novo caminho desejei um bom dia para o mar, como de costume, e adormeci com meus pensamentos. Minha recem jornada começou a ser exibida sem trailer, este era o tema daquele momento. Meus olhos nao se conteram e se apertaram, minha garganta foi se fechando, sutis lagrimas começaram a escorrer enquanto abraçava mais forte minha mochila. 
      Quando era criança, algo em torno de 07 anos, comecei a ensaiar minha viagem, fugi de casa duas vezes. Todas foram com a supervisao da minha mae, porem, sem o meu conhecimento. Soube desta historia muitos anos depois, vale a pena escrever sobre ela um dia. Voltando ao que interessa, esta viagem seria bem diferente, desta vez estaria "sozinho".
      Fiz minhas malas para uma excursao sem destino. Todos os laços que me prendiam aquele presente haviam se soltado. Estava livre para voar novamente, mas, minhas asas atrofiadas nao permitiam voos muito audaciosos, afinal elas haviam ficado inutilizadas por um tempo consideravel. Decidi seguir duas direçoes: os ventos seriam minha referencia externa e meu coraçao a referencia interna. Minhas malas foram arrumadas na velocidade da ansiedade, que no lugar da calma tomavam as decisoes. A primeira impressao foi que elas poderiam ser maiores, talvez a memoria nao havia colocado todos os itens necessarios. A ideia de uma lista foi cogitada, mas, como é possivel listar os itens necessarios para uma viagem sem destino. O processo mais facil, ou menos dificil, foi começar pelos itens mais importantes, aqueles que independente do lugar iria precisar. Malas sobre a cama e o processo sendo praticado, chego a pensar que a viagem tenha começado naquele momento.
       O primeiro item escolhido estava a mao, ferramenta de utilidade diaria, a coragem. A verdade foi que a estava utilizando para fazer as malas, por isso, coloquei apenas uma parte. Pronto, dobrada e bem ajeitada, ocupou boa parte da mala, o proximo item foi a esperança que juntamente com o amor foram bem acomodados. Virei as gavetas que estavam a fé, compaixao, caridade e muitos outros, um a um eles iam preenchendo minha grande mala, minha companheira de longas viagens. Comecei a ficar preocupado porque ainda haviam muitas coisas pra guardar e pouco espaço, nao queria levar muitas malas, pois, isto poderia ser um grande problema no quesito mobilidade. Pois bem, ja no final onde o pouco de paciencia que existia ja havia sido guardada, acabei embolando algumas coisas na mochila e o restante acabou ficando para tras. Por um momento pensei que estaria esquecendo alguma coisa que precisaria, mas, o que nao é essencial pode ser adquirido. Sentei sobre a mala para conseguir fecha-la e selei com um cadiado vagabundo, mas, visualmente imponente.
        Malas prontas, asas calibradas e vento soprando forte. A bussola do coraçao apontava para o nordeste. Desistir nunca foi uma opçao, mas, quando a certeza distrai as pernas tremem e o corpo esfria, a mente divaga e o ser se torna ia. Volta pro texto poesia e deixa a certeza firme enquanto o resto se concentra...
        O motorista me acordava sorrindo dizendo que haviamos chegado em nosso destino. Fui o ultimo a descer do onibus.

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